Considerações Importantes

Chegar até aqui é fácil; há portas de entrada e de saída em todos os lugares. Saber o que catar é outra história. Outsiders são bem-vindos, pois se sentirão em casa - quanto aos outros... Talvez possam achar o que lhes preste.
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pérola da vez

"a única verdade é o amor para além da razão" - Musset

16 novembro, 2011

Metamorfose

Presa no casulo que está na linda árvore no meio da praça, com sua cor de outono, quase sem folhas, e sem as flores da primavera, necessito encontrar a liberdade. Oh, meu Deus! Estou presa no casulo, e aqui estã escuro e úmido, não posso me aquecer e não consigo enxergar a luz. Minha mente se torna confusa, por nesse momento, eu ter desencontrado meu eu, e sinto-me nada, vã e vazia, como um pote de ar... ou melhor, uma embalagem a vácuo! Eu não sei o que sou, como sou, o que serei. Sei apenas sofrer, sentir e questionar o que é viver. Terei eu belas asas coloridas e poderei eu mesma voar? Encontrarei meu eu, em seu mais pleno ser, como são as árvores, o sol, as plantas e as flores? viverem eu em paz, paz que almejo, busco e não consigo encontrar?
O que passo é por uma metamorfose, e como toda metamorfose, é acompanhada de dor e alegria. Olhe para uma borboleta saindo do casulo e entenderá.

02 novembro, 2011

Em um labirinto

Sinto que quem sou e quem fui são sonhos diferentes, parte de um passado que me aflige a mente. Passam-se os dias, e sinto-me perdendo aos poucos, me desfazendo, e ficando vazia. Cadê meu conteúdo? Sou só um objeto de arte inanimada, no canto da sala de estar, onde ninguém mais frequenta - um vaso de procelana chinesa, só enfeitando, sem pensar... As palavras que antes habitavam minh'alma, já eu, não posso mais encontrá-las. Se antes me encontrava desesperada precisando escrever por não suportar o que sintia, agora encontro-me confusa em relação aos princípios que finjo eu não ter, e que ao mesmo tempo, encontro dentro de mim e vou me tornando pobre de espírito por isso. Já eu, não sei mais refletir, e pareço estar em constante ócio que me impede e me tranca dentro apenas de ciências e ciências. Estou procurando a arte pela arte, e não sei se posso mais encontrá-la.

20 setembro, 2011

Nossa, mas olha que lindo, leve e brilhante,
no alto da árvore, o passarinho cantante!
Aurora dos deuses, o céu escure,
o frio acontece,
e devo dizer - é hora da prece.
Deus que ajude a me proteger,
estou mesmo é cansada,
cansei de viver.
Penso no ninho que acima eu vejo,
e assim eu desejo,
ali quero morrer.

18 setembro, 2011

Aula de psiquiatria (1)

Minhas ideias são voláteis como o éter, penso, mudo, julgo. Encho meus pensamentos com valores morais e éticos que nem eu mesma suporto, em seguida, evaporam e se perdem em nada. Sobra apenas meu ser, que nada é, e em contradição, sigo vivendo o que considero viver. Ser apenas por ser, e ao mesmo tempo esta realidade de ser se questiona dentro de mim e se perde em um labiritinto de pré-conceitos que se confundem, fico tonta e embrulha o estômago. Náusea. Afinal, em quê acredito? Ideias sobrevalorizadas...

11 setembro, 2011

Hoje é mais um dia como todos aqueles outros, e me agrada. A janela aberta entrando a claridade do céu nublado, acinzentado, um pouco frio, de acordo com a vida. Parece ser a única coisa em acordo no universo, todo o resto me faz questionar o real sentido de viver. Na realidade eu não tenho a necessidade de achar um sentido para viver, mas me sinto com a burguesa com seu pinheirinho bem cuidado no livre de Hesse, que finge transformar em cosmo todo o caos que existe de fato tirando o ser de tudo e atribuindo insignificâncias.

20 junho, 2011

Fuga de Mim

É terrível! É terrível! Após tantos anos de paranoia obsessiva e cuidado extremo, apagando cada rastro que servisse de pista para meu perseguidor, mudando sistematicamente de morada e identidade para que não fosse reconhecido, quando o destino já parecia ter-me perdido de vista e meu espírito sentiu-se vacilar, cá estou nessa cabana débil a ouvir meu fado bater na porta rústica. O tempo não deixou-me esquecer o dia em que percebi a que caminhos sórdidos eu estava destinado a trilhar. A lembrança vive em minha alma e lateja como uma ferida que nunca cicatriza. Eu tinha oito anos quando descobri sobre minha herança genealógica e desde então minha biografia tornou-se um sumário de tormentas e sofrimento. Na tentativa vã de evitar o mal inevitável, isolei-me em montanhas frias, vales sombrios e florestas inacessíveis. Até que cheguei nessa ilha e minha mente sentiu que estava segura e podia descansar. O som das batidas na porta rústica é terrível e desprovido de qualquer esperança abro a tábua tosca fazendo as dobradiças rangerem, macabra orquestra de meu réquiem. Aqui, onde há séculos nenhum homem pisa, seria quase impossível me encontrarem e por algum tempo isso mostrou-se verdadeiro. Agora porém, quando o inevitável se ergue à porta, cá estou, isolado e solitário na ilha que antes parecia meu idílio e agora tornou-se meu cárcere.

17 junho, 2011

Antropofagia 3

Sentimento vazio que preenche a minha alma, que contorna em círculos o labirinto do espirito, mostra-me o arco-íris com seu pote de ouro! O que vejo é sombra, penumbra e escuridão, os olhos estão cegos, e por isso penso. Mas pensar em quê? para quê? Se é tudo solidão, palavras soltas, sem sentido, É como se fosse me perdendo aos pedaços, me desfazendo e deixando o eu que já não era no fundo do poço artesiano dos contos de fadas! Não me reconhecer, nem mesmo ao olhar no espelho e sinto nojo da minha própria perda de mim, como ao olhar um prato com bosta e calda de chocolate! Antropofagia de mim, em n-a-d-a!

10 maio, 2011

Dístico #2

Um mistério existe naquela senhora de vestido
Num cemitério triste ela chora pelo marido

Dístico #1

Ó, má sois dádiva e traição de origem divina
Só há pois raiva e frustração da virgem concubina

Soneto #1

Depois de beber e de comer tanto
Passado o baile, a dança, o riso e o pranto
Depois de passada a hora de ida
Ficam cristais vazios sem bebida

E a vontade tímida de que a festa
Acabasse em outra vida, não nesta
Que o Arlequim não levasse a Colombina
Que a chuva fosse confete e serpentina

Mas foram-se a banda , os fogos e a dança
Não há música nem luzes nem festejo
Que agora só existem na lembrança

Mas fica, querida, e atende meu desejo
Antes que a Lua se vá com toda esperança
Deixe me antes despedir-me com um beijo

08 maio, 2011

aula de anestesio


Sabe, aqui em Vassouras, apesar de toda a pobreza que tem na cidade e até de bastante miséria, e quem já foi para os lados do Mancuzi pode entender bem o que eu estou dizendo, não costuma ter mendigos, pessoas largadas na rua, sem um teto para se esconder do sol ou da chuva.
Hoje quando estava voltando da aula de anestesiologia um pouco entediada e entorpecida de tanto sono fui virar o carro para estacionar embaixo do prédio quando notei que na calçada oposta, do outro lado da rua, se encontrava um Senhor, sentado sem muita postura, se recostando em algumas sacolas de pano. Ele era negro e estava todo recoberto por roupas de manga comprida e um capuz (e o dia estava com um sol bem forte e quente), eu só conseguia enxergar-lhe os olhos e não me recordo bem se ele tinha barba ou não, acho que tinha. A cena me chamou atenção e estranhei, ao descer do carro resolvi perguntar se ele tinha fome, questionei duas vezes e ele não me respondeu. Ainda sem resposta eu disse "vou lhe trazer algo para comer, vou te dar uns biscoitos".
Subi ao apartamento ainda chocada com a cena, pensando em quanto tempo o homem deveria estar sem comer e para onde ele iria depois. Abri a porta, larguei as coisas desorganizadas em cima da mesa e peguei um pacote fechado de rosquinhas de leite que eu tinha no armário. Pensei que deveria dar-lhe algo para beber, talvez um suco de soja de maçã que eu tinha na geladeira, cheguei até a pegar um copo de plástico que eu tinha, mas pensei que o suco de soja talvez não fosse agradar muito o paladar dele. Notei então que tinha umas garrafinhas de água vazias no outro armário, coloquei um pouco de suco concentrado de maracujá, completei com água gelada e açúcar, sacudi. Fiquei com vontade de oferer a ele um misto-quente ou de colocar no microondas uma comida congelada que eu tinha, mas achei que ele podia nao querer comer aquela hora, e resolvi levar o pacote com os biscoitos, que ele poderia guardar um pouco para comer depois. Coloquei tudo em uma sacola de supermercado e desci, chegando próxima dele eu disse "Toma, eu trouxe para o Senhor", e ele virou o rosto, eu insisti mais uma vez e ele esticou o braço em minha direção e me perguntou:
- De quê signo você é?
- Câncer - eu respondi
Ele respondeu de volta dizendo que eu era irmã dele ou alguma coisa do tipo que não consegui entender muito bem, e me agradeceu bastante. Virando as costas para voltar ao apartamento falei mais uma vez:
- Deus abençoe - talvez um pouco descrente

04 março, 2011

Nada como filólogos para entenderem a etiologia das palavras e poderem contextualizar com a sociedade e a evolução dos valores, mas nem sempre somos capazes de acompanhar tal mudança no contexto sociocultural. Há de se notar uma tendência natural das coisas e da sociedade de se inverterem os valores conforme muda-se a cultura, sempre querendo deixar todos iguais. A sociedade que antes era opressiva e agora torna-se disciplinar tende a amansar e tornar todos em fieis filhos, que não abandonam o guarda-sol que os protegede do caos, que na realidade é a vida. Viver com o caos é necessariamente mais difícil, e para quê enfrentar isso se podemos nos conformar com o cosmo (interrogação) E pela proteção, tudo que se paga é só um pouquinho de vida... mas nem se nota mesmo.... constante fagocitose, que engole e deglute o que é próprio, para que ele não se torne não-próprio. constante controle.