Considerações Importantes

Chegar até aqui é fácil; há portas de entrada e de saída em todos os lugares. Saber o que catar é outra história. Outsiders são bem-vindos, pois se sentirão em casa - quanto aos outros... Talvez possam achar o que lhes preste.
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pérola da vez

"a única verdade é o amor para além da razão" - Musset

20 junho, 2011

Fuga de Mim

É terrível! É terrível! Após tantos anos de paranoia obsessiva e cuidado extremo, apagando cada rastro que servisse de pista para meu perseguidor, mudando sistematicamente de morada e identidade para que não fosse reconhecido, quando o destino já parecia ter-me perdido de vista e meu espírito sentiu-se vacilar, cá estou nessa cabana débil a ouvir meu fado bater na porta rústica. O tempo não deixou-me esquecer o dia em que percebi a que caminhos sórdidos eu estava destinado a trilhar. A lembrança vive em minha alma e lateja como uma ferida que nunca cicatriza. Eu tinha oito anos quando descobri sobre minha herança genealógica e desde então minha biografia tornou-se um sumário de tormentas e sofrimento. Na tentativa vã de evitar o mal inevitável, isolei-me em montanhas frias, vales sombrios e florestas inacessíveis. Até que cheguei nessa ilha e minha mente sentiu que estava segura e podia descansar. O som das batidas na porta rústica é terrível e desprovido de qualquer esperança abro a tábua tosca fazendo as dobradiças rangerem, macabra orquestra de meu réquiem. Aqui, onde há séculos nenhum homem pisa, seria quase impossível me encontrarem e por algum tempo isso mostrou-se verdadeiro. Agora porém, quando o inevitável se ergue à porta, cá estou, isolado e solitário na ilha que antes parecia meu idílio e agora tornou-se meu cárcere.

17 junho, 2011

Antropofagia 3

Sentimento vazio que preenche a minha alma, que contorna em círculos o labirinto do espirito, mostra-me o arco-íris com seu pote de ouro! O que vejo é sombra, penumbra e escuridão, os olhos estão cegos, e por isso penso. Mas pensar em quê? para quê? Se é tudo solidão, palavras soltas, sem sentido, É como se fosse me perdendo aos pedaços, me desfazendo e deixando o eu que já não era no fundo do poço artesiano dos contos de fadas! Não me reconhecer, nem mesmo ao olhar no espelho e sinto nojo da minha própria perda de mim, como ao olhar um prato com bosta e calda de chocolate! Antropofagia de mim, em n-a-d-a!