Considerações Importantes

Chegar até aqui é fácil; há portas de entrada e de saída em todos os lugares. Saber o que catar é outra história. Outsiders são bem-vindos, pois se sentirão em casa - quanto aos outros... Talvez possam achar o que lhes preste.
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pérola da vez

"a única verdade é o amor para além da razão" - Musset

08 maio, 2011

aula de anestesio


Sabe, aqui em Vassouras, apesar de toda a pobreza que tem na cidade e até de bastante miséria, e quem já foi para os lados do Mancuzi pode entender bem o que eu estou dizendo, não costuma ter mendigos, pessoas largadas na rua, sem um teto para se esconder do sol ou da chuva.
Hoje quando estava voltando da aula de anestesiologia um pouco entediada e entorpecida de tanto sono fui virar o carro para estacionar embaixo do prédio quando notei que na calçada oposta, do outro lado da rua, se encontrava um Senhor, sentado sem muita postura, se recostando em algumas sacolas de pano. Ele era negro e estava todo recoberto por roupas de manga comprida e um capuz (e o dia estava com um sol bem forte e quente), eu só conseguia enxergar-lhe os olhos e não me recordo bem se ele tinha barba ou não, acho que tinha. A cena me chamou atenção e estranhei, ao descer do carro resolvi perguntar se ele tinha fome, questionei duas vezes e ele não me respondeu. Ainda sem resposta eu disse "vou lhe trazer algo para comer, vou te dar uns biscoitos".
Subi ao apartamento ainda chocada com a cena, pensando em quanto tempo o homem deveria estar sem comer e para onde ele iria depois. Abri a porta, larguei as coisas desorganizadas em cima da mesa e peguei um pacote fechado de rosquinhas de leite que eu tinha no armário. Pensei que deveria dar-lhe algo para beber, talvez um suco de soja de maçã que eu tinha na geladeira, cheguei até a pegar um copo de plástico que eu tinha, mas pensei que o suco de soja talvez não fosse agradar muito o paladar dele. Notei então que tinha umas garrafinhas de água vazias no outro armário, coloquei um pouco de suco concentrado de maracujá, completei com água gelada e açúcar, sacudi. Fiquei com vontade de oferer a ele um misto-quente ou de colocar no microondas uma comida congelada que eu tinha, mas achei que ele podia nao querer comer aquela hora, e resolvi levar o pacote com os biscoitos, que ele poderia guardar um pouco para comer depois. Coloquei tudo em uma sacola de supermercado e desci, chegando próxima dele eu disse "Toma, eu trouxe para o Senhor", e ele virou o rosto, eu insisti mais uma vez e ele esticou o braço em minha direção e me perguntou:
- De quê signo você é?
- Câncer - eu respondi
Ele respondeu de volta dizendo que eu era irmã dele ou alguma coisa do tipo que não consegui entender muito bem, e me agradeceu bastante. Virando as costas para voltar ao apartamento falei mais uma vez:
- Deus abençoe - talvez um pouco descrente

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