Considerações Importantes

Chegar até aqui é fácil; há portas de entrada e de saída em todos os lugares. Saber o que catar é outra história. Outsiders são bem-vindos, pois se sentirão em casa - quanto aos outros... Talvez possam achar o que lhes preste.
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pérola da vez

"a única verdade é o amor para além da razão" - Musset

06 fevereiro, 2009

Um Lugar na Rua Sin

"Aquela luz que escapava pela porta de lata devia significar alguma coisa"




Claus, um vagabundo de vida sem propósito atravessava alucinado a Rua Sin. Àquela hora cruzava-se apenas com viciados e prostitutas. Ele pensava: Como poderia viver após aquele incidente terrível? - nada mais seria o mesmo. Se ao menos ele houvesse se previnido, se antecipado aos acontecimentos; mas não, o infortúnio o encontrara implacavelmente, como uma fera farejando uma presa ferida. O mal estava feito e o que lhe restara era este gosto de pó na boca.


Mas não era que bem depois do mercado uma luz pálida insinuava-se sobre o calçamento de pedras portuguesas... Era uma noite sem lua, escura e sem reticências. Mas aquele fio de luz delgada escapava com arrojo por uma porta menos que medíocre. Aquela luz que escapava pela porta de lata devia signifcar alguma coisa. Claus, como um inseto noturno, bateu as asas mesmerizado em direção à luz. A porta de lata crescia a cada passo. Era uma porta menos que medíocre, mas dela saía a luz mais cheia de simbologia que poderia existir. Estava aberta.


Dentro uma atendente de cabelos na altura do queixo e olhar insinuante perguntou-lhe o nome. Qual o seu nome?, Claus B. Não, essa noite, somente B. Ele aceitou o batismo com normalidade e não estranhou que a atendente sem braços escrevesse B com a caneta enfiada na boca. Ao lado, dois copinhos com inscrições:

"Beba este"
E:

"Não beba este"

Quado Claus agarrou o primeiro, a garota da entrada aconselhou Este não é o melhor para você, beba aquele que não deveria tomar. Como ele não entedeu, ela explicou Faça o que não deve, você está no Bar do Torto. E ele bebeu o "não beba este", e sentiu-se bem, e o licor quente dissolveu o pó em sua boca, que agora escorria como lava pela garganta. Ele gritou, e suas palavras de revolta caíram pesadas no chão. Não precisaria delas.


O Interior era aconchegante, algumas mesas com forro de feltro vermelho, mesas de sinuca com forro de feltro verde; luzes suaves - ou melhor, smooth - pendiam do teto de lambri escuro. Havia um lugar desocupado ao lado de uma loira. Ele perguntou Posso sentar? Sim, ele podia. Ela começou:

Eu descobri o meu melhor vestido rasgado hoje. Cheguei aqui com um gosto de espinhos na boca, mas agora eles parecem algodão. Cotton Mouth. Você é novo, por isso estou lhe explicando essas coisas. Agora se quiser ficar mais, vai ter que me pagar uma bebida, não lhe disseram que aqui é assim, meu bem?

O garçon trouxe dois Dry Martini. Ela pegou um deles e levantou-se indo em direção à banda que tocava, lá começou a dançar. Claus pegou o seu drink e foi ao encontro dela, mas parou de repente porque sentiu que a lava na sua garganta congelara no estômago. Ela olhou para ele Você é, tímido... e lhe deu um beijo, todo o gelo derreteu em frescor. Você pode vir sempre aqui e esquecer seus problemas quando quiser, haverá sempre um copinho de Não beba este como cortesia, mas pelos outros você terá que pagar e alguns vai ganhar.

A luz era quente e confortável acima deles, aquilo devia significar alguma coisa.

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